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Entre nós e laços

Por que buscamos conviver em grupos?
 

Amigos que se reúnem para um happy hour no bar às sextas-feiras. A tradicional pelada com churrasco no final de semana. Os dois exemplos acima são explicados pelo conceito de gregarismo, isso é, a tendência do comportamento na raça humana em se buscar a convivência em grupos. Seja no trabalho, na vida amorosa ou mesmo no lar, o homem constantemente busca alinhar seus objetivos, visões de mundo e perfis identitários com os de outras pessoas para encontrar um caminho que permita o compartilhamento e a viabilização da vida para todos. A origem do conceito tem suas raízes na zoologia. Foi a partir da observação do comportamento grupal dos animais que isso passou a ser estendido também para os seres humanos.


Os primeiros traços de gregarismo se manifestam logo no período da infância, quando o ser humano ainda depende de outras pessoas - geralmente, de um grupo familiar ou de outras formações coletivas - para obter alimentação, proteção e educação. A partir da vida adulta, as necessidades de se relacionar com outros indivíduos mudam, assim como os grupos em que as pessoas vão se inserir. Os vínculos afetivos que nascem a partir dos momentos de dificuldade também são consideradas relações gregárias.


É o caso do Instituto Oncoguia, organização sem fins lucrativos que surgiu em 2003 como um site especializado em informações sobre o câncer. Criado pela paulistana Luciana Holtz, o Oncoguia evoluiu ao longo dos anos. Atualmente, a empresa se tornou instituto e é responsável por organizar ações que dão acolhimento e proximidade aos pacientes em tratamento contra essa doença.


Ela explica que a preocupação com o drama vivido pelos pacientes que recebiam o diagnóstico foi a principal motivação para o lançamento da página na internet. “Eu atuava como psico-oncologista e percebia que a desinformação e a informação de má qualidade impactavam muito negativamente na vida dessas pessoas”, conta a médica. A organização também estima que ao menos 50 milhões de pessoas já foram impactadas pelas informações fornecidas pelo site, que busca, sobretudo, combater a desinformação que existe em torno do câncer e que provoca uma sensação de medo e isolamento para quem enfrenta esse male. “É muito comum vermos somente o lado ruim, mas as boas notícias existem e precisam ser mais divulgadas de forma leve e clara.


Hoje, essas notícias falsas estão cada vez mais irreconhecíveis, quem dera por um público completamente leigo e carente de receitas mágicas e que tragam a cura de doenças como o câncer”, pontua Luciana. Sensação de pertencimento a um grupo também é a buscada por muitos internautas a partir da crescente digitalização e mediação das relações humanas por meio da tecnologia.


O jornalista Gabriel Leite comenta que o Twitter™, microblog onde se pode escrever textos de até 280 caracteres, tornou-se um tipo de conforto onde ele dedica algumas horas de seu dia interagindo com amigos e até mesmo fazendo novas amizades. “Eu uso o dia inteiro, toma bastante tempo do meu dia. Acho que o fato de você se comunicar primariamente pelas palavras. “É uma extensão, acho que as pessoas acabam me conhecendo mais pelo Twitter do que pela vida real. Vejo tanta gente falando, desabafando e que eu penso: ‘Vou falar também’. Eu me sinto motivado pelas outras pessoas”, comenta.


A tecnologia conferiu novos contornos para o relacionamento humano. Uma realidade referendada por especialistas como o antropólogo Wilton Silva, da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp em Assis (SP). Silva comenta que as novas tecnologias proporcionaram uma nova forma de mediar a proximidade nos relacionamentos humanos. “Numa sociedade complexa como a nossa, o indivíduo se sente isolado ou desprotegido quando ele não se percebe como parte de um grupo. Em dinâmicas tecnológicas contemporâneas, essa formação do vínculo através de perspectivas identitárias ou o compartilhamento de opiniões e recepções reforça o processo de agregamento. Isso aumenta, por um lado, o número de grupos e, por outro, a intensidade dos vínculos. Cada vez se torna mais difícil o indivíduo se perceber como único, solitário ou exótico”, explica.


Foi graças às informações trazidas, inicialmente pelo portal Oncoguia e, posteriormente, pelas campanhas de humanização feitas pelo instituto, que Luciana Holtz tem orgulho em dizer que o slogan da organização é “Você não está sozinho”. Desde o início dos trabalhos, em 2003, cerca de 8 mil pacientes e familiares já foram atendidos pela associação.

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